Relato pessoal de leitura

Aprendi com Belonísia 

      O livro Torto arado, de Itamar Vieira Júnior, apresenta diversos personagens, cada um com sua particularidade. Há uma personagem intrigante, chamada Belonísia. Ela perdeu parte da sua língua quando era apenas uma criança e essa marca a seguiu durante toda sua vida. Ao perder a capacidade de falar, Belonísia encontrou outras formas de se expressar e resistir no mundo. 

      Ao longo de toda a minha vida, em meio a tantas leituras, nunca imaginei que uma personagem tomaria um espaço tão profundo em mim como Belonísia. Ela se tornou parte de mim e, hoje, eu sou sua voz.

      Quando li Torto arado, percebi que ela não é apenas uma personagem fictícia. Ela representa tantas mulheres que, mesmo passando por diversas situações opressoras, demonstraram resistência.

      Belonísia me ensinou que existe força no silêncio. Me fez pensar nas incontáveis palavras que nunca dizemos, mas sempre sentimos. 

      Eu aprendi com Belonísia que a fala pode ser negada, mas o saber, não. Que existem letramentos de vida que nascem do convívio com a terra, das vivências, das dores que a gente esconde, e que esse tipo de leitura não se aprende na escola.

      Belonísia não gostava da escola. Não suportava aquele ensino tão distante da sua realidade. Ela preferia viver a vida real, preferia sentir a terra. Preferia colocar em prática todos os letramentos que faziam parte dela e que a escola não enxergava.

     Belonísia me ensinou que há muitas formas de ler o mundo e que a mais profunda delas, às vezes, não se diz, vai muito além das letras.

por Evellin Assunção

Imagem: Belonísia.

Fonte: Evellin Assunção.