Além das Letras: os caminhos dos Letramentos

Para cr ia r e aprender       A inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente no nosso cotidiano - nas redes sociais, nas buscas, nos vídeos que assistimos e até na forma como estudamos ou trabalhamos. Ao contrário do que muitos pensam, ela não substitui o ser humano e nem acaba com a criatividade, ela potencializa nossas criações e nos ajuda a pensar de forma ainda mais criativa, se for utilizada com consciência.        A imagem que você vê aqui foi criada por IA e mostra os colaboradores deste blog em forma de desenho. Para isso, enviei as características detalhadas de todos e pedi para a IA gerar um desenho como se estivéssemos tirando uma selfie, e esse foi o resultado.       Escolhemos usar a IA na criação dessa imagem porque ela faz parte do nosso estudo sobre letramentos - mais especificamente, o letramento digital, e, também, para mostrar um pouco sobre a capacidade que a inteligência artificial tem. Usar as tecnologia...

 Novos gêneros, velhas bases

 Letramento racial por Machado X de Jesus

Aprendi com Belonísia        O livro Torto arado , de Itamar Vieira Júnior, apresenta diversos personagens, cada um com sua particularidade. Há uma personagem intrigante, chamada Belonísia. Ela perdeu parte da sua língua quando era apenas uma criança e essa marca a seguiu durante toda sua vida. Ao perder a capacidade de falar, Belonísia encontrou outras formas de se expressar e resistir no mundo.        Ao longo de toda a minha vida, em meio a tantas leituras, nunca imaginei que uma personagem tomaria um espaço tão profundo em mim como Belonísia. Ela se tornou parte de mim e, hoje, eu sou sua voz.       Quando li Torto arado , percebi que ela não é apenas uma personagem fictícia. Ela representa tantas mulheres que, mesmo passando por diversas situações opressoras, demonstraram resistência.       Belonísia me ensinou que existe força no silêncio. Me fez pensar nas incontáveis palavras que nunca dizemos, mas sempre sent...

 LeituraS Antigamente Na época dos celulares sem Internet, quando SMS era o auge da comunicação entre adolescentes, Helena aguardava ansiosamente os curtos 20 minutos diários em que podia usar o celular da mãe. Sentada à mesa, digitava apressadamente mensagens para suas amigas enquanto, ao fundo, a mãe terminava de limpar a cozinha, arrumando os últimos pratos no escorredor. — Acabou, Helena. Sai do celular e vai ler um livro! — gritava a mãe, enxugando as mãos no pano de prato. Helena revirava os olhos, já antecipando o fim de sua conversa com as amigas. Suspirou, largou o celular sobre a mesa e se levantou. Caminhou até o armário da sala e puxou seu livro favorito que já estava com as bordas gastas e as páginas marcadas pela caneta azul. Sentou-se no sofá e começou a folhear, procurando a última página lida. Ao encontrar suas anotações nas margens, sorriu. Eram pensamentos soltos, reflexões sinceras de uma menina que queria entender o mundo. Por um instante, desejou que hou...

  Letramento de mundo       O letramento de mundo não se limita ao aprendizado escolar. Ele forma pessoas capazes de sentir, perceber, respeitar e agir com consciência. É o tipo de saber que molda o caráter, afina a escuta e ensina que viver também é um ato de leitura, leitura da vida, do outro, de si mesmo. Foi assim que aprendi: não apenas em salas com lousa e caderno, mas também com os pés descalços na terra quente e as mãos cheias de calo.       Cresci na roça, numa casinha simples, cercada por mato, fogão à lenha e cheiro de café recém-coado. Desde cedo, meu mundo era feito de tarefas e ensinamentos: ajudar a mãe a fazer bejú, catar lenha no mato, plantar e colher junto com meu pai. A escola era importante, claro, mas foi a vida que me alfabetizou primeiro. Lembro das manhãs em que saíamos cedo pra roça. Para plantarmos milho, e meu pai  dizia: “Coloque na terra, somente três caroços, é o suficiente” E eu escutava, mesmo sem entender direito....

      Outro tipo de leitura              Hoje acordei cedo, levantei da cama que mais parece um pedaço de chão e passei meu café forte e sem açúcar, daqueles de levantá inté defunto. Arrumei a casa, conversei com a vizinha e adiantei meus passo. Precisava de ir inté a feirinha comprá as verdura que tava faltano em casa.       Lá eu encontrei um moço bem apessoado que parecia um tanto perdido com sua lista de compras. Pelo que entendi, a lista dizia pra comprá uma pranta boa pra dor de barriga. Cheguei mais perto e perguntei se ele precisava de ajuda, mas o moço de bem apessoado só tinha as fuça mermo. Disse que eu jamais ia saber ajudá ele, pruque nem falar eu sabia, e que "provavelmente não estaria nem entendendo as palavras", eu alembro dele falano isso: provavelmente . O moço era cheio das palavra bunita...       Ele pegou um raminho de foia e falou que ia levá pra fazê um chá de curá o intestino solto qu...

Letramentos por Machado X de Jesus

ABC da vida Se na ponta do lápis  Tu escreve teu mundo Na ponta dos pés  O mundo me encaminha  Tu encontra nas letras O mistério profundo E nas minhas vivências  A prática das teorias Quando a vida diz não  Por não ter formação  É hora pra refletir  Tu tem diploma né, dotô?  É o bastante pra te definir? No ABC da vida Me letrei na sobrevivência  Caí, mas com fé me levantei Aprendendo com a experiência  Posso não ter feito faculdade, dotô Mas juro que não sou atoa Porque foi nas oportunidades que tive Com os livros que eu encontrava Que hoje minha voz ecoa  Realmente, a leitura salva Digo isso com propriedade  Descobri    o peso das palavras  Quando li Lélia Gonzalez Voando e alcançando gente Que acha que não é ninguém  Explicando nossa história e cultura  Como a marginalização se estrutura E como nós somos reféns Por isso, dotô Pegue sua visão  O mundo ensina também  E não é pra diminuir não...